Carrinho vazio.
Ícones? O que são?
Nós Cristãos - Ocidentais Latinos e Orientais Ortodoxos, Russos, e outras Tradições Cristãs - , adoramos Deus como um artista, pois leva para o trono do seu Senhor as obras da sua imaginação criadora. As cores e os desenhos dos Ícones, o som dos cânticos sagrados, as cúpulas e os arcos dos edifícios dedicados à celebração do mistério divino não são um mero e útil estímulo na Ortodoxia, por exemplo. Antes, formam uma parte integral e indispensável do culto, pois o homem é chamado a humanizar o mundo material e um dos meios à sua disposição é o poder transfigurador da arte.
Na Tradição Ortodoxa incorporaram a arte na sua vivência espiritual, na medida em que a Beleza é um dos nomes de Deus e onde há beleza há harmonia e Deus está presente. Os Ortodoxia reconhece Deus como primeiro artista: "E Deus disse: haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa a luz". Deus criou o mundo e viu que era bom! O Criador de todas as coisas fez sua obra e a contemplou, portanto a arte tem a função sagrada de nos transmitir uma verdade; desta decorre a beleza de uma obra. Nesse sentido, a Arte Sacra ocupa um lugar de primeira ordem como verdade teológica e como transfiguração deste mundo pelo reflexo do amor divino.Índice
1. Ícone: imagem do Invisível
Os Ícones são característicos da Arte Sacra e Litúrgica da Igreja Oriental. Quando penetramos num templo ortodoxo imediatamente percebemos inumeráveis ícones por toda a Igreja. É que o ícone é sinônimo de Arte Sacra Bizantina, onde teve sua origem e aperfeiçoamento, embora não esteja restrito a um lugar geográfico.
Bizâncio irradiou esta arte por todo o império Cristão e hoje se encontra em todas as Igrejas Ortodoxas espalhadas pelo mundo. A atualidade do ícone é surpreendente. Há um movimento de redescoberta das fontes da Cristandade e o Ocidente Cristão cada dia se extasia e surpreende com as riquezas dos ícones. Estes têm lugar e papel importantíssimo para a espiritualidade ortodoxa que podemos compreender o lugar que ocupa o Ícone, já que não existe nada semelhante na tradição religiosa ocidental, seja na forma artística, seja no conteúdo espiritual. De fato, para o Ocidente Cristão, o ícone é desconhecido e incompreensível até que se percebe sua função e sentido. É isto que nos propomos aqui, uma aproximação e penetração no mundo do Ícone.
2. O que é um ícone?
Esta é uma indagação básica que se faz em geral. A palavra ícone vem do grego EIKÓN, que significa imagem, palavra com amplas aplicações e que no Ocidente é extensiva às figuras com volume ou estátuas que representam o Cristo ou os santos. O Oriente Cristão não produz estátuas por considerar o volume como um passo para antropomorfizar a representação e deslizar para a idolatria. Um Ícone, portanto, é simplesmente uma imagem pintada sobre a madeira, com técnica muito especial e de acordo com cânones bem definidos quanto ao tema, composição, cor, harmonia que se pretende pintar.
3. O que não é um ícone?
Para o Cristão ortodoxo é difícil definir o que é um ícone, porque para eles o ícone é uma experiência pessoal, a contemplação através da pintura. Portanto, só podemos defini-lo negativamente, ou seja, não é um retrato, não se pintam sentimentos ou emoções. Não se adora o ícone, não há risco de idolatrar a pintura, pois essa representa uma imagem - um protótipo, um modelo - na realidade, venera-se a pessoa representada, não o objeto em si. O Ícone é uma presença misteriosa que não se define. O Ícone não é um simples estilo artístico nem um modo histórico de arte, não está preso a um tempo específico.
4. Qual o fundamento do ícone?
No Antigo Testamento Deus proibiu qualquer representação ou imagem divina (Ex.20). A pedagogia Divina levou os hebreus primeiro a escutar a voz de Deus (Dt. 4, 12-15). Começa aqui o início da experiência pessoal com Deus. Não se podia representar Deus porque Ele nunca fora visto por ninguém. Os homens são conduzidos e preparados para o encontro verdadeiro com Cristo, que nos revela a verdadeira imagem de Deus. "Cristo é a imagem de Deus invisível" (Col. 1, 15). É na Encarnação do Verbo de Deus feito homem que podemos pintar sua imagem. Sendo o ícone a revelação do Invisível, a Iconografia é aos olhos o que a palavra é para o ouvido.
5. Qual a função do ícone?
O ícone tem uma função sacramental, na medida que reflete o divino, o atemporal e nos remete para a eternidade, da qual o ícone é uma janela. O Ícone possui uma beleza que não reside na estética do quadro, mas sim na verdade teológica que nos comunica. Não tem nem sequer função didática de ensino religioso, embora possamos aprender com ele. O que o Evangelho proclama com a palavra, o Ícone o anuncia com cores e o faz presente. Nas palavras de São João Damasceno, "o Ícone é um canal de graça com poder santificador", na medida que nos comunica a Luz Divina, atributo da glória do Reino de Deus. Diante do Ícone o recolhimento e o silêncio nos abrem à luz da transfiguração aos nossos olhos e nos permitem contemplar uma beleza que não é deste mundo. O Ícone é um testemunho do Poder Santificador do Espírito Santo na santidade dos santos e a certeza de que os homens podem seguir a mesma trilha aberta por Cristo.
6. História dos ícones
É difícil definir quando começou a pintura de ícones. Uma tradição muito difundida atribui os primeiros ícones ao evangelista São Lucas, que sendo muito amigo da Virgem Maria, teria pintado vários ícones da Virgem, que gostou muito, abençoou e agradeceu.
Outra tradição relaciona os ícones com a imagem aerobita (Santa Face não pintada por mão humana) enviada por Cristo ao rei Abgar de Edessa. A lenda menciona que Abgar estava leproso e queria curar-se. Enviou uma delegação à Palestina pedindo a Cristo cura e um retrato Seu. Cristo atendeu e enviou-lhe um pano onde tinha enxugado o rosto e aí ficaram impressos os Seus traços.
Há uma tradição latina que menciona um episódio da Paixão de Cristo. Diz que Santa Verônica (que talvez signifique "vero ícone", verdadeira imagem) enxugou o rosto do Senhor, tendo esse pano retido a imagem de Cristo.
Houve Concílios que regulamentaram a confecção dos Ícones, como o de Trullo em 691, que defendeu uma doutrina cristológica do Ícone. Mas o Ícone viveu um período de contestação chamado precisamente de iconoclasta, ou seja, destruidor de Ícones. A guerra às imagens foi declarada pelo Imperador bizantino Leão III, em 725. As sagradas imagens foram condenadas, dando lugar à perseguição, morte e desterro dos defensores dos Ícones. Essa guerra foi declarada sob acusação de idolatria e esta querela durou mais de um século. Mesmo assim, em 787 celebrou-se o Concílio de Nicéia, que condenou os iconoclastas e justificou o culto dos Ícones.
Por fim, em 843, no primeiro Domingo da Quaresma, através da Imperatriz Teodora, foi restabelecida veneração às imagens, e celebrada solenemente nesta ocasião o "triunfo da Ortodoxia". Esta festa se celebra ainda hoje todos os anos e é denominada "O Dia da Ortodoxia".
7. Quem pinta os ícones?
O Ícone só tem fundamento na Igreja, ou seja, é dentro da Tradição da Igreja Ortodoxa num contexto especial que surge o Ícone. O iconógrafo é alguém autorizado e avaliado por uma autoridade da Igreja para tal propósito; segue uma aprendizagem artística específica, quanto à técnica propriamente dita e segue recomendações espirituais, para poder realizar sua obra: orações, jejum, leitura e meditação bíblica.
O pintor de Ícones deve ser humilde, manso e piedoso - não deve ser charlatão, nem briguento, nem invejoso, nem bebedor, nem ladrão. Deve guardar a pureza espiritual e corporal.
8. O iconógrafo e a tradição
É importante frisar que o iconógrafo tem seu fundamento na Tradição espiritual da Igreja. Esta define não como conservação de uma herança passada, mas bem uma "transmissão", uma atualização da herança viva. O Ícone é uma das expressões da Tradição Sagrada da Igreja, o mesmo que a tradição escrita e a oral. O significado da palavra iconógrafo é "o que escreve os ícones" e deve ter uma preparação espiritual em contato direto com a Igreja, que o abençoa e orienta no seu trabalho artístico. Portanto, o conteúdo espiritual do ícone reside na fidelidade à tradição da Igreja, que define através de uma série de cânones e prescrições, os limites dentro dos quais o gênio do artista se movimenta, que é menos individual e mais teológico. No Ícone o artista é quase anônimo, ele é um instrumento para o Espírito Santo agir, emprestando-Lhe seu talento particular. Nenhum iconógrafo pretende ser "um artista original"; isto é completamente alheio à finalidade do Ícone.
9. As escolas iconográficas
Existem muitas escolas iconográficas. As principais são as eslavas e as gregas, que deram origem a uma grande diversidade de escolas. [...] O ícone é uma obra de arte que ultrapassa a própria arte: longe de ser somente de ordem estética, a mensagem do ícone é de ordem teológica. E por isso o ícone fala aos homens de nosso tempo, assim como falou aos homens de outrora.Imagem do invisível, janela para o infinito, a iconografia nasce da memória dos primeiros cristãos e enraíza-se no evangelho e na liturgia. Apenas por sua existência, cada ícone evoca o mistério da encarnação.
10. Qual o significado do ícone?
A arte do Ícone é um apelo para que o cristão que o contempla se distancie dele e purifique os seus sentidos, de tal modo que possa contemplar nessa manifestação artística a própria Pessoa divina [que vem] até nós sob uma forma humana, a de Jesus Cristo. No seio da Igreja Ortodoxa o Ícone recebe a mesma veneração que as Sagradas Escrituras, porque as imagens exprimem através das suas cores e do simbolismo das suas formas o mesmo que a palavra escrita nos anuncia. Isto é, o Ícone procura exprimir o inexprimível; e isso tornou-se possível desde que o Filho de Deus encarnou e Se fez Homem (na Antiga Lei era proibido fazer imagens por existir o perigo de idolatria, ou seja, da adoração dos ídolos: de fato, no Velho Testamento Deus revelava-Se aos homens sobretudo através da Palavra - mas depois a Palavra fez-Se carne, com Jesus Cristo).
De certo modo podemos dizer que Cristo encarnou, tomou um corpo, para nos mostrar a figura "humana" de Deus-Pai - Ele que nos criou à Sua imagem e semelhança.
"Ícone" significa exatamente "imagem". Assim, o Ícone de um Santo representa a imagem, simultaneamente terrestre e celeste, desse Santo, a sua imagem pura e integral. Podíamos, aliás, dizer que no Ícone a imagem humana é pintada como ela era na origem, na Criação do Mundo, liberta das leis da matéria resultantes da Queda. O que o Ícone nos mostra não é uma realidade do Mundo que nos rodeia: é uma "janela" que se abre para o Céu. E a imagem aí representada é a de uma criatura celeste, rodeada de luz (é essa a razão do fundo dourado que vemos, geralmente, em cada Ícone).
No caso de um Ícone de Cristo, o que contemplamos não é a sua natureza divina nem a sua natureza humana; é, sim, o próprio Verbo de Deus encarnado, tendo o divino e o humano reunidos em Si. Deste modo, a fotografia de um santo dos nossos dias não pode servir de Ícone (isto é, de imagem sagrada) porque a fotografia é uma imagem exclusivamente terrestre do homem. O mesmo se poderia dizer das esculturas, igualmente representações exclusivas da humanidade de um Santo. E ainda por cima, susceptíveis de incitar o crente à idolatria.
Deve-se acrescentar que a veneração das Santas Imagens (Ícones) é um dogma de Fé, assim formulado pelo 7.° Concílio Ecumênico: "Os santos e preciosos Ícones devem ser colocados nas igrejas, casas, estradas, quer sejam Ícones de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo ou da nossa Soberana e sempre Virgem, a Santa Mãe de Deus, ou dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Porque, cada vez que vemos a sua representação pela imagem somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos dos modelos, e adquirindo assim mais amor por eles, somos ainda levados a render-lhes homenagem, beijando-os e testemunhando nossa veneração, não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um Ícone venera a pessoa que se encontra nele representada".
11. O Catecismo da Igreja Católica refere aos Ícones
Nós enquanto Cristãos Latinos, temos o Catecismo da Igreja Católica, como o Magistério da Igreja, nele temos alguns parágrafos que nos explica um pouco sobre os ícones:
1161. Todos os sinais da celebração litúrgica fazem referência a Cristo: também as imagens sagradas da Mãe de Deus e dos santos. De facto, elas significam Cristo que nelas é glorificado; manifestam «a nuvem de testemunhas» (Heb 12, 1) que continuam a participar na salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Através dos seus ícones, é o homem «à imagem de Deus», finalmente transfigurado «à sua semelhança», que se revela à nossa fé – como ainda os anjos, também eles recapitulados em Cristo: «Seguindo a doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres e a tradição da Igreja Católica, que nós sabemos ser a tradição do Espírito Santo que nela habita, definimos com toda a certeza e cuidado que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da Cruz preciosa e vivificante, pintadas, representadas em mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre as alfaias e vestes sagradas, nos muros e em quadros, nas casas e nos caminhos: e tanto a imagem de nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de nossa Senhora, a puríssima e santa Mãe de Deus, a dos santos anjos e de todos os santos e justos» (Cf. II Conc. De Nicéia: DS 600).
1162. «A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para os meus olhos, e, tal como o espetáculo do campo, impele o meu coração a dar glória a Deus» (Cf. S. João Damasceno, Imag. 1, 27: PG 94, 1268B). A contemplação dos sagrados ícones, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se imprima na memória do coração e se exprima depois na vida nova dos fiéis.
2131. Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecumênico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.
2691. A igreja, casa de Deus, é o lugar próprio da oração litúrgica para a comunidade paroquial. É também o lugar privilegiado para a adoração da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. A escolha dum lugar favorável não é indiferente para a verdade da oração:
• Para a oração pessoal, pode servir um «recanto de oração», com a Sagrada Escritura e ícones (imagens) para aí se estar «no segredo» diante do Pai (Cf. Mt 6, 6). Numa família cristã, este gênero de pequeno oratório favorece a oração em comum;
• Nas regiões onde existem mosteiros, tais comunidades estão vocacionadas para favorecer a participação dos fiéis na Liturgia das Horas e permitir a solidão necessária para uma oração pessoal mais intensa (Cf. PC 7.);
• As peregrinações evocam a nossa marcha na terra para o céu. São tradicionalmente tempos fortes duma oração renovada. Os santuários são, para os peregrinos à procura das suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver «em Igreja» as formas da oração cristã.
2705. A meditação é sobretudo uma busca. O espírito procura compreender o porquê e o como da vida cristã, para aderir e corresponder ao que o Senhor lhe pede. Exige uma atenção difícil de disciplinar. Habitualmente, recorre-se à ajuda dum livro e os cristãos não têm falta deles: a Sagrada Escritura, em especial o Evangelho, os santos ícones (as imagens), os textos litúrgicos do dia ou do tempo, os escritos dos Padres espirituais, as obras de espiritualidade, o grande livro da criação e o da história, a página do «hoje» de Deus.